Um olhar sobre o acidente fatal na Hydro Alunorte: Repensar paradigmas


Por racismoambiental
Classificamos esta notícia como Racismo Ambiental apoiando a Ação Civil Pública   ( n° 024.11.008143-7) aberta pelo promotor Gustavo Senna, do MPE do Espírito Santo, contra a Arcelor Mittal. Ao processá-la acusando-a de estar “praticando Racismo Ambiental“, ele argumenta que a siderúrgica se nega, no estado, a adotar medidas capazes de minimizar a poluição que emite e os danos por ela causados, conforme é feito em suas plantas industriais na Europa. Com a aceitação dessa argumentação, ele abriu inclusive um caminho jurídico que deveria ser usado contra a TKCSA, a Hydro Alunorte e outras indústrias que seguem o mesmo tipo de procedimentos, a nosso ver. TP.
Gilvandro Santa Brígida*
Exatamente no dia 23 de março, completamos três meses do acidente que tirou a vida do nosso companheiro Zacarias, foi o primeiro acidente ocorrido com um trabalhador da empresa Hydro Alunorte em 16 anos de operação. Para nós, companheiros de trabalho uma perda irreparável, para seu pai, mulher e filha não temos como medir.
O acidente ocorrido no dia 23 de dezembro jogou por terra toda a gestão de segurança da Hydro Alunorte e deveria fazer a empresa repensar toda a sua maneira de fazer segurança. Infelizmente não é isso que está ocorrendo, às decisões tomadas apontam para um lado que conhecemos muito bem na empresa. A demissão de todos os envolvidos no acidente mostra a mesma prática de anos anteriores, a empresa sempre ataca o efeito e não a causa do acidente. Os cinco trabalhadores foram sumariamente demitidos.
Outro fator que banalizou a gestão de segurança da empresa foi a limpeza feita no local depois do acidente que descaracterizou totalmente o lugar e atrapalhou muito a investigação do acidente. O que a empresa tentou omitir com essa limpeza? A simulação aconteceu em um local que em nenhum momento representava o verdadeiro ambiente do acidente. Tudo isso colocou em xeque o resultado da investigação e ao invés de esclarecer, está gerando dúvidas nos trabalhadores.
Em 2012 já tivemos vários acidentes, dois com afastamento do trabalho, se a decisão for pela demissão dos envolvidos teremos mais trabalhadores sem empregos, trabalhadores com anos de experiências. Quanto tempo levará para formar novos profissionais com o conhecimento dos empregados demitidos? O problema está na gestão de segurança que deve ser revista, ela não pode ser apenas para inglês ver ou mais precisamente para norueguês ver.
Os acidentes de trabalho não podem continuar sendo explicados como fatalidade, com se fosse uma coisa natural. Devem ser tratados como resultado de falhas de gestão dos processos produtivos, na maioria das vezes evitáveis por meio da prevenção. De todos os acidentes ocorridos na Empresa devemos fazer uma reflexão e promover a mudança de comportamento no interior da empresa. Devemos envolver todos os trabalhadores, pois na maioria das vezes, as pessoas diretamente envolvidas na discussão, são as vítimas ou os profissionais tecnicamente responsáveis pelo gerenciamento dos riscos. O ideal seria fazer uma reflexão coletiva que viesse a contaminar as consciências com a cultura da segurança. Mas isso é utopia; consciências não se contaminam; consciências são formadas por meio de um lento processo de educação.
Nós temos que trabalhar para que não aconteçam novamente acidentes na empresa. A cultura da segurança compreende comportamento, capacitação, investimentos, manutenção, fiscalização, participação, tecnologia, enfim, uma série de fatores que dependem de ações contínuas e do acúmulo de experiência. Educação para a prevenção é isso que precisamos. A morte do companheiro Zacarias não pode ser em vão.
*Sociólogo/Coordenador da Oposição Sindical na Hydro Alunorte.

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